O problema não é você, sou eu.

- Mas você tem certeza?

- Tenho sim, fique tranquilo.

- Juro que eu não queria te gerar desconforto.

- Tudo bem, sem problema mesmo.

- Não tem como negociar mesmo?

- Ainda não, mas tudo tem a sua hora.

- Da próxima vez farei diferente.

- Não se preocupe, o problema sou eu.

Já viveu isso antes? Eu vivi bastante recentemente. E por comida.

Durante a fase mais restritiva da dieta era meio constrangedor às vezes não comer alguma coisa que me ofereciam, mas a questão estava além da educação de se aceitar o que oferecem. A questão era séria: eu precisava vencer a obesidade - e mórbida. E obesidade mórbida traz risco de morte súbita, simples assim. E uma vez que saí desse nível, havia um vício a se vencer. Os nutrientes e horários eram todos definidos e sair da recomendação poderia jogar dias de trabalho fora. E isso não era simples. 

Já estou reintroduzindo alimentos e ainda há um caminho a seguir. A Gorda agora fica me colocando medo dizendo que pode se descontrolar. Quando a deixei dominar, passei mal porque perdi o costume de algumas coisas. Toma! Dá ouvidos a ela!

Fico constrangida cada vez que tenho que recusar algo, e que bom que as pessoas aceitam e respeitam mais do que a gente imagina. E no final da conversa sempre vem:

- Mas quando você puder, você come?